Anestésico Tópico

Anestésico Tópico Anfarmag

Com o aumento exponencial da procura por tratamentos estéticos nos consultórios médicos, observou-se a concomitante necessidade da utilização de anestésicos tópicos para aumentar o conforto do paciente durante procedimentos que podem ser extremamente dolorosos, como Lasers ablativos, Indução percutânea de colágeno, Injeções de Ácido Hialurônico ,Ácido Polilático entre outros.

As formulações industrializadas com o uso isolado ou combinado de agentes anestésicos em muitas vezes não suprem a necessidade de controle da dor de determinados procedimentos estéticos, o que abre um importante nicho para atuação do farmacêutico magistral.

É muito importante ter um conhecimento profundo sobre permeação cutânea e a farmacologia dos anestésicos tópicos, uma vez que se faz necessário o desenvolvimento de uma formulação que faça o controle efetivo da dor, mas esta formulação precisa ser também segura. Este é um limite que pode ser tênue. Em 2008 o FDA fez um alerta de saúde pública em que relatou a ocorrência de dois casos de morte de mulheres, de 22 e 25 anos, que aplicaram anestésicos tópicos nas pernas, sob oclusão, previamente à depilação a Laser.

O estrato córneo, porção mais externa da epiderme, é a principal barreira para a permeação de ativos através da superfície da pele, incluindo os anestésicos tópicos. A sua composição, com células extremamente queratinizadas e coesas dificultam a permeação de moléculas ionizadas, sendo bases neutras mais facilmente difundidas em direção a derme. Um conhecimento diferencial que aumenta muito a eficácia de uma formulação anestésica é que a capacidade do anestésico em penetrar o extrato córneo depende do pKa do anestésico, quanto mais próximo o pKa do agente anestésico do pH da pele, maior a quantidade de base formada e, portanto, melhor a penetração. Quando se trata de anestésico tópico uma boa estratégia é a adição de bicarbonato com intuito de aumentar o pH do meio e, consequentemente, maior proporção da droga na forma não-ionizada, o que aumenta a velocidade de ação da anestesia (redução da latência).

A efetividade e permeação de um anestésico tópico esta relacionado a uma série de outros fatores: a integridade da barreira cutânea, utilização ou não de agente vasoconstritor (sendo a sua utilização benéfica por prolongar o efeito analgésico e diminuir a absorção sérica), lipossolubilidade, capacidade de ligação proteica, área de aplicação, concentração, o tempo de permanecia do produto sobre a pele, a oclusão e forma farmacêutica utilizada. Segundo Brain e colaboradores (2007), a quantidade de fármaco que penetra na pele depende quase sempre da escolha correta do veículo, e aqui cabe a nós farmacêuticos magistrais, executarmos nosso melhor trabalho.

Destacam-se a utilização de “skin enhancers”, que são compostos químicos farmacologicamente inativos, mas que podem permear ou interagir com constituintes do estrato córneo, facilitando a permeação dos anestésicos. Os promotores de absorção cutânea podem alterar a composição, as propriedades físico-químicas, a organização lipídica e proteica inter e intracelular do estrato córneo, diminuindo, reversivelmente, a sua função barreira e/ou aumentando o coeficiente de partilha do fármaco, proporcionando uma difusão adequada do mesmo através da pele (Thomas & Panchagnula, 2003; Chorilli et al., 2007).

Dentre os “Skin Enhancers” que podem ser incorporados as formulações magistrais destacam-se os Ácidos Graxos, sendo os insaturado mais efetivos na promoção da absorção percutânea de fármacos que os seus homólogos saturados. O ácido oleico e o palmitoleico os principais representantes dessa classe (Martins & Veiga , 2002); os Glicóis e Álcoois, sendo o etanol o mais utilizados dentre os promotores de absorção, removendo grandes quantidades de lipídios do estrato córneo e aumentando o número de grupos sulfidrila livres da queratina (Sugibayashi et al., 1992). O efeito de sistemas de solventes como água, etanol e propilenoglicol proporcionaram o incremento do fluxo de fármaco, sendo o máximo obtido com a mistura de 33% de propilenoglicol em etanol (Panchagnula et al., 2001); Sulfóxidos, foi verificado por espectroscopia que o DMSO promove a extração dos lipídios e a desnaturação de proteínas alternando a conformação da queratina e outras proteínas, sendo um excelente promotor de difusão de fármacos via transdérmica e também os Fosfolípideos, que são excelentes Skin Enhancers, com destaque para aqueles que contem ácidos graxos insaturados no grupo hidrofóbico, como a fosfatidilcolina. São vários os mecanismos que explicam esta propriedade, mas acredita-se que permeação é facilitada pelo aumento da afinidade do insumo com a membrana celular (Martins & Veiga , 2002; Silva T.A et al, 2010).

Quanto ao mecanismo de ação, os anestésicos, tópicos agem por bloqueio de canais iônicos na membrana celular neuronal, impedindo a neurotransmissão do potencial de ação. A forma ionizada do anestésico local liga-se de modo específico aos canais de sódio, inibindo a propagação da despolarização celular. Existe um segundo mecanismo de ação, gerado pela forma não ionizada dos anestésicos locais, que envolve a inativação dos canais de sódio pela incorporação na membrana plasmática. O bloqueio das fibras nervosas ocorre gradualmente, iniciado com a perda de sensibilidade à dor, à temperatura, ao toque, e finalmente perda do tônus músculo esquelético. Por essa razão os indivíduos podem ainda sentir o toque no momento em que a dor já está ausente após aplicação do anestésico local (H. EDGCOMBE,2012.)

 

Quimicamente, os anestésicos tópicos se dividem em dois grupos: ésteres e amidas. Possuem em sua maioria um grupo aromático (apolar) associado a um grupo amina (polar). Esses dois grupos são ligados por uma cadeia intermediária que determina a classificação do anestésico local como amida ou éster. Os exemplos de amidas que podem ser usados em formulações magistrais são a lidocaína e prilocaína, já os agentes do tipo ésteres incluem a tetracaína e a benzocaína. A diferença principal entre as duas classes é a estabilidade química. Os ésteres são relativamente instáveis em solução, e facilmente metabolizados no plasma pela pseudocolinesterase, já as amidas são mais estáveis e tem metabolização hepática(G. FROES et al, 2010). A associação de um ou mais agentes anestésicos em diferentes veículos é um mercado extremamente promissor para o setor magistral.

A Tetracaína não tem apresentação comercial no Brasil, e só esta disponível para manipulação, sendo o único anestésico controlado pela Portaria 344, pertencente a Lista C1. Ela é mais lipofílica do que a lidocaína e a prilocaína, portanto permeia com maior facilidade e faz depósitos local, desta forma o anestésico é liberado gradativamente, o que diminui a absorção sistêmica e prolonga a sua duração. Fora do nosso País foi aprovado pelo FDA e é comercializado por dois grandes laboratórios a mistura eutética de Lidocaína e Tetracaína em veículo que após 60 minutos forma máscara plástica, tento esta um importante papel de oclusão o que consequentemente aumenta a eficácia analgésica.

Deste modo, de maneira responsável e sempre atento as necessidades do mercado, o Farmacêutico Magistral pode contribuir no manejo da dor em procedimentos cosmiátricos, sempre respeitando a limitação de concentração dos agentes analgésicos, formulando associações realmente eficazes e seguras.

Posts relacionados

Deixe um comentário