O termo de Gerenciamento da pele na Micropigmentação nasceu da necessidade de se profissionalizar o setor, respaldando o profissional Micropigmentador com dados científicos que aprimoram seu trabalho, diminuindo as chances de intercorrências que levam a resultados inestéticos ou a perda do pigmento.
Hoje se sabe que não somente as complicações decorrentes da falta de assepsia no procedimento, (como em infeções secundárias a Micropigmentação contaminada com microorganismos patogênicos) mas todas as outras intercorrências podem ser evitadas. A despigmentação exacerbada, cicatrizes hipertóficas, queloides ou hiperpigmentação pós inflamatória decorrentes da tentativa de despigmentação na correção do Microblading, podem ser evitados ou minimizados se houver um conhecimento, por parte do Micropigmentador, da fisiologia da cicatrização tecidual, assim como do processo inflamatório e stress oxidativo envolvidos no pós procedimento.
Complicações na Micropigmentação
Dentre as intercorrências que podem ocorrer no pós procedimento destacam-se a despigmentação exacerbada e alteração na coloração do pigmento, hiperpigmentação pós inflamatória na tentativa de correção ou mais raramente alterações no próprio processo de cicatrização como a formação de cicatrizes hipertróficas e queloides.
A Micropigmentação lesa a pele para inserção do pigmento e logo após o procedimento se dá início a cicatrização, um processo complexo que resulta na formação de um novo tecido para o reparo da lesão. O entendimento profundo desse processo se faz necessário para diminuir as chances de intercorrência, otimizando o resultado final, e consequentemente a satisfação do paciente.
Inflamação: Correlação entre Reparo tecidual e Resultados não satisfatórios
A inflamação é o gatilho para o reparo tecidual, e está também intimamente relacionada as complicações relacionadas ao Microblading. Após a ocorrência incisão na pele, seja pelo dermógrafo ou indutor manual, inicia-se o extravasamento sanguíneo que preenche a área lesada com plasma e elementos celulares, principalmente plaquetas. Ocorre então a agregação plaquetária e a coagulação que levam a formação de um tampão hemostático, nesse processo ocorre a liberação de citocinas e fatores de crescimento que se somam a ativação de células parenquimatosas, mediadores vasoativos e fatores quimiotáticos que auxiliam o recrutamento das células inflamatórias no local da ferida.
Em resposta aos agentes quimiotáticos, neutrófilos e monócitos migram em direção ao leito da ferida. Além da função de fagocitose de bactérias, fragmentos celulares e corpos estranhos, essas células inflamatórias produzem fatores de crescimento, que preparam a ferida para a fase proliferativa, quando fibroblastos e células endoteliais também serão recrutados.
O monócito ativado (macrófago) é a principal célula do reparo tecidual, degradando e removendo componentes do tecido conjuntivo danificado, como colágeno, elastina e proteoglicanas. Além desse papel na fagocitose de fragmentos celulares, os macrófagos também secretam fatores quimiotáticos que atraem outras células inflamatórias ao local da ferida e produzem prostaglandinas, que funcionam como potentes vasodilatadores, afetando a permeabilidade dos vascular, mantendo enquanto necessário o recrutamento celular e o processo inflamatório de maneira geral. Essas células produzem vários fatores de crescimento, tais como o PDGF, o TGF-β, o fator de crescimento de fibroblastos (FGF) e o VEGF, que se destacam como as principais citocinas necessárias para estimular a formação do tecido de granulação.
Os neutrófilos uma vez recrutados ao local da lesão, ativam um complexo enzimático chamado NA-DPH oxidase que gera um radical livre, o ânion superóxido, com importante ação bactericida. O ânion superóxido por sua vez, sofre ação de um antioxidante que é a superóxido dismutase (SOD) que o converte em H2O2. Aqui reside uma das explicações para a alteração da cor com o decorrer do tempo na micropigmentação. Além da fagocitose ativa do pigmento pelas células de defesa durante a fase inflamatória do processo cicatricial, há que se levar em consideração a ação do H2O2 gerado. O H2O2 é um metabólito ativo do oxigênio, que em contato com calor ou pH básico se dissocia em principalmente três tipos de radicais livre, o Hidroxila (OH–), ânion superóxido (O2–) e Perhidroxil (HO–2), que convertem o pigmento colorido a um menos colorido, sendo mais um dos responsáveis pela alteração da pigmentação no pós procedimento. Esse conhecimento pode ser usado a favor do profissional, que quando souber gerenciar e diminuir a inflamação do processo de reparo tecidual, terá um resultado superior na manutenção da cor, assim como aquele que necessita lançar mão de técnica de despigmentação para correção do Microblading.
A última fase do processo cicatricial é a proliferação. Esta fase é responsável pelo fechamento da lesão e se inicia com a reepitelização que compõem o chamado tecido de granulação responsável pela ocupação do tecido lesionado cerca de quatro dias após a lesão. Concomitante e não menos importante é o processo de formação de novos vasos sanguíneos (angiogênese), na qual novos vasos sanguíneos são formados a partir de vasos preexistentes. Os fibroblastos produzem a nova matriz extracelular necessária ao crescimento celular enquanto os novos vasos sanguíneos carreiam oxigênio e nutrientes necessários ao metabolismo celular local.
O processo de cicatrização no pós procedimento depende da sinalização celular que acontece pela liberação de mediadores químicos que são os fatores de crescimento, metaloproteinases, prostanóides e leucotrienos, e a modulação da inflamação no reparo tecidual é de extrema importância no gerenciamento da pele no pós Microblading e nas técnicas de despigmentação.
Uma evolução normal das fases de cicatrização em um indivíduo hígido geralmente determina uma cicatriz final de bom aspecto estético e funcional. Qualquer interferência nesse processo pode levar à formação de cicatrizes de má qualidade, alargadas e pigmentadas. Dentre as afecções cicatriciais, destacam-se a cicatriz hipertrófica e o quelóide.
Quelóides e cicatrizes hipertróficas ocorrem a partir de hiperproliferação de fibroblastos, com conseqüente acúmulo de matriz extracelular, especialmente pela excessiva formação de colágeno, devido a uma resposta exacerbada do fibroblasto frente ao estimulo de sinalização que ocorre no processo inflamatório após a incisão da pele. Um dos principais tratamentos para o queloides é a injeção intralesional de corticóide, como o acetato de triancinolona, que é um anti-inflamatório hormonal.
O quelóide é uma lesão elevada, brilhante, pruriginosa ou dolorosa, de localização dérmica e que ultrapassa os limites da ferida original, ou seja, invade a pele normal adjacente. Apresenta crescimento ao longo do tempo e não regride espontaneamente. Por outro lado, cicatrizes hipertróficas consistem em cicatrizes elevadas, tensas e confinadas às margens da lesão original. Com freqüência tendem à regressão espontânea, vários meses após o trauma inicial. É muito raro o surgimento de cicatrizes hipertróficas e queloides na micropigmentação, uma vez que a localização básica das alterações do quelóide é na derme reticular, e na Micropigmentação o pigmento deve ser inserido entre a camada basal e derme papilar, sendo essa a principal diferença entre a tatuagem e Microblading. Porém não é incomum a inserção de pigmento na derme profunda pelo Micropigmentador, devido a técnica utilizada e falta de experiência do profissional.
Quando ocorre a necessidade de despigmentação para correção e consequente eliminação de pigmento, são utilizados ácidos, laser, salabrasão, H2O2 ou a combinação entre duas ou mais dessas técnicas. Qualquer uma ou a associação entre elas geram um processo inflamatório que ativam o melanócito e há um estimulo para a produção de melanina podendo acontecer uma hiperpigmentação pós inflamatória.
Ao gerenciar corretamente a pele antes e pós procedimento, modulando a resposta inflamatória do processo cicatricial, diminui-se expressivamente as chances de alteração na coloração do pigmento inserido, assim como a formação de cicatrizes inestéticas e hiperpigmentação pós inflamatória em procedimentos de correção (despigmentação). O estudo desse conceito e a sua inserção na Micropigmentação iniciam uma nova era, a onde resultados mais eficazes e com menos riscos de complicações elevam o status do setor, tornando o profissional de Microblading melhor preparado para promover a arte da sua profissão.