Cysteamine: Nova opção no tratamento do Melasma

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 (Texto: Karina Soeiro Março, 2019)

Compartilho com vocês este texto que escrevi no inicio de marco do ano passado (2019), onde fiz um compilamento da literatura científica do cysteamine, onde adiciono a combinação de hipóteses que podem explicar os possíveis mecanismos de ação da utilização desta molécula no tratamento do melasma. Acima fotos de paciente tratada em parceria com dermatologista utilizando formulação desenvolvida por mim.

MELASMA

O melasma é a mais comum das desordens da pigmentação e tem uma prevalência de até 50% da população, sendo um dos principais motivos de busca de tratamentos estéticos nos consultórios dermatológicos. A fisiopatologia do melasma é complexa e multifatorial: pré-disposição genética, exposição à radiação UV, aumento da expressão do FC beta 3, SCF e do alfa MSH, assim como outras influências hormonais são alguns dos fatores envolvidos na indução da melanogênese (KANG et al, 2006; LEE et al, 2017).  Recentemente foi documentado que o aumento da angiogênese e stress oxidativo secundário ou não ao status pró-inflamatório, assim como alteração na função barreira, são fatores relacionados ao desenvolvimento e a franca piora dos scores do melasma (PASSERON E PICARDO,  2018).

Os insumos farmacêuticos clássicos para tratamento do melasma incluem os ácidos azeláico, kójico, glicólico, salicílico, retinóico, resorcina e a hidroquinona. A hidroquinona é o despigmentante padrão ouro para tratamento das desordens hiperpigmentares, porém sua utilização é controversa devido à sua melanotoxixidade, ao potencial sensibilizante e ao possível efeito rebote, sendo  proscrito em diversos países (HALDER et al, 1983; KIM et al, 2007; MOIN et al., 2006; WERLINGER et al, 2007).

CYSTEAMINE

Cysteamine é um subproduto da degradação da Coenzima A que é produzida a partir do aminoácido L-cisteína e da Vitamina B5, onde posteriormente ela é metabolizada em taurina pela ação de duas enzimas, a cysteamine dioxigenase e a hipotaurina desidrogenase (BESOUW M et al, 2013)

Essa biomolécula é um potente agente antioxidante, protetor contra radiação ionizante e com propriedade anti-mutagênica. O potencial despigmentante do cysteamine foi evidenciado em um estudo utilizando porcos da índia como modelo experimental (JIMBOK K et al, 1991), esses dados corroboraram a publicação feita em 1966 por CHAVIN e SCHLESINGER, quando relataram a diminuição drástica da concentração de melanina após a injeção de cloridrato de cysteamina na pele de peixes.

Estudos comparando o cysteamine à hidroquinona, demonstraram a superioridade dessa molécula como despigmentante sem o efeito melanotóxico do derivado benzênico (QUI et al, 2000; FRENK et al, 1968).

O cysteamine é um despigmentante do grupo Tiol, ou seja, é uma molécula organossulfurada com um grupamento mercaptano assim como o ácido tioglicólico.  O mecanismo exato pelo qual esta molécula age não esta totalmente elucidado, porem é conhecido que os despigmentantes da classe dos tióis inibem enzimas chaves da biossínetese de melanina, como a tirosinase e peroxidase, além disso, um estudo publicado em 1996 por BENATHAN M e LABIDI F , demonstrou a capacidade dos tióis em sequestrar dopaquinona  (metabólito da dopa por acão da tirosinase e peroxidase nas etapas iniciais da melanogênse) e quelar os íons de ferro e cobre, importantes cofatores das enzimas-chave deste processo (SHIBATA T, 1993). 

MATOS DG e FURNUS CC, 2000, observaram que embriões bovinos tinham os níveis de glutationa significativamente aumentado após a suplementação com cisteina e cystiamine, sendo esse mais um dos possíveis mecanismos de ação pelo qual essa molécula diminui drasticamente a melanogênese.  

        Outro estudo importante que pode elucidar o mecanismo de ação do Cysteamine para tratamento de desordens hiperpigmentares está relacionado ao seu potencial anti angiogênico.  Há um consenso recente de que fatores pró-angiogênicos, como o aumento do fator de crescimento vascular (VEGF), fator de necrose tumoral alfa (TNF alfa) e interleucina 8, tem um papel crucial na fisiopatogênese do melasma (HYUNG KIM et al, 2007). Em 1973, foi publicado um estudo onde foi evidenciado que cysteamine em altas doses favoreceram o desenvolvimento de úlcera duodenal relacionada entre outros fatores ao aumento da expressão de fatores de crescimento anti angiogênicos (SELY H e SZABO,1973).

CYSTEAMINE NO TRATAMENTO DO MELASMA

O cloridrato de cysteamine é um insumo recentemente adicionado ao arsenal terapêutico do melasma e é atualmente considerado o despigmentante mais eficaz e seguro que se tem conhecimento.  O grande potencial despigmentante do cysteamine para tratamento do melasma, foi relatado pela primeira vez por MANSOURI et al em 2015 em um estudo clinico duplo cego, randomizado e controlado por placebo com 50 pacientes com melasma, onde metade deles utilizaram um creme contendo 5% de cloridrato de cysteamine à noite após 30 minutos da higienizacão da pele. Os voluntários permaneceram 3 horas com o creme contendo o insumo ativo ou placebo e após o tempo determinado removeram com água. Durante o dia foi orientado à utilização do fotoprotetor. Neste estudo eles utilizaram como índice comparativo o MASI e o Mexameter (figura 2), três anos após  esta publicação, foi refeita a análise utilizando o método Dermacatch, uma vez que este é muito mais especifico e possui maior reprodutibilidade ao avaliar a pigmentação e eritema da pele (M. BAQUIÉ e B. KASRAEE, 2014; FARSI et al, 2018).

KASRAEE et al 2019, apresentaram o relato sobre o caso de uma paciente de 44 anos com melasma resistente à formulação de Kligman que utilizou cysteamine à 5% por quatro meses, seguindo a orientacão para aplicar o creme na  face sem prévia higienizacão e removendo o produto com água após quinze minutos. Os resultados impressionam, a paciente foi orientada à aplicar a formulação duas vezes por semana para manutenção do resultado. Uma observação importante relatada neste estudo foi a diminuição considerável da telangectasia e da hipopigmentacão intralesional com a suspensão da formulação de Kligman e a introdução do tratamento contendo cysteamine.

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